sábado, 3 de setembro de 2011

Entre o céu e o mar

Eu peço que você se esqueça
o que aconteceu,
o passado é tudo o que se perdeu,
pra esse nosso lance,
tudo há de mudar.

Eu quero que você entenda
que acredito em Deus,
e, se duvidares,
só os olhos meus
trazem brilho novo para te provar.

Quem há de se converter
ao amor maior que se possa ter,
faz de tudo e um pouco mais
para a dor acabar.

Quem há de ser um novo ser
tem vontade própria de se refazer
para o teu amor,
entre o céu e o mar.

sábado, 21 de maio de 2011

"Libertas Quae Sera Tamem"



              Fico acomodado no leito, mas sem nenhuma pretensão de glória, sendo esta, a posição que me conservo, totalmente oposta. Sei que devo levantar-me quando o relógio despertar e repetir o ato, a cada dia. Talvez a conformidade, trilha única e obscura da alienação, que nos lança desde o amanhecer para a vida fútil, rotineira e embriagadora, tende a nos esclarecer sobre a matéria bruta que somos; ainda que de súbito e no final. E talvez o tempo cronometrado, dono do útero reprodutor de títeres escravos e do comando de tudo, queira programar o mundo para a competição, no limite do atrito; e seja o mesmo tempo cronometrado que nos fará reconhecer como canibais e sanguessugas.
              É cercado de paredes ásperas, com quadros rudimentares, desprovidos de tinta e contorno, que eu penso no quanto a arte pode tornar-se desprezível. E olhando pela janela, encontro a verdadeira identidade do mundo, mediante os outros quadros malogrados. É talvez rasgando a pele e arrancando os cabelos que conseguiremos, tristes, pincel e tinta para criarmos obras originais; enquanto a atualidade impressiona com seu sorriso prosaico diante de tudo e pela eternidade jovial que necessita e arranja no ópio. Porém, ainda que seja forçoso aperceber-se no alto de um relevo, depois, pula-se de pára-quedas, com medo do estrago.
             A bile negra, substância revolucionária do pensamento para chegar-se ao entendimento do atraso que por ela mesma fora provocado, estimula-nos a rejeitar o método lógico, conservador e objetivo numa face existencialista, onde imagino o escritor Kafka aprisionado; efetuando a lei natural das coisas. Agora a modernidade apresenta-se com princípios conscientes (o oposto para explicar o próprio oposto), que boicota o alívio das dores no uso de anestesias, limpando o orvalho das vitrines para ter visão ampla do interior.                     Porem, as flores de plástico, quando expostas ao sol, não atingem o deleite da fotossíntese. Só recebem a inútil imagem projetada e adquirida sob uma óptica cega; simples coerência luminosa para que essas não se sintam transparentes, apesar de serem a semelhança do nada na essência. Fatalmente, levanto bandeira contra todo sentimento material e venal!
                Infelizmente, braços e pernas, cérebro e coração, perdem o valor quando se tem o corpo ornado às jóias de ouro e pedras preciosas. Oh caminhemos todos juntos, sentemo-nos lado a lado com o Czar maior na mesa de jantar para realizarmos os nossos sonhos. Logo, a criadagem nos servirá o alimento sagrado: salada de rubis, enrolado de perolas e molho de ouro derretido. Na azia, iremos todos para o trono merecido, com saudades do feijão com arroz. Todas essas euforias são análogas à mediocridade e estão interligadas ao sentido abstrato de superioridade, por ser corrupta e oportunista. Penso no destino a sujeitar-se o mundo sem pessoas com senso de sociedade fraternal!
                A dificuldade de sobrevivência e a necessidade de protestar impelem-me a repetir a atitude histórica do ilustre filosofo grego Diógenes: sair às ruas, pela manhã, com uma lanterna acesa, à procura de um homem honesto – refiro-me à política. "E que não me tires o que não me podes dar"! Chega de correntes, cárceres, fogueiras... de toda a forma de repressão! Viva a liberdade das palavras, do escarro, dos gritos, da arte sem vínculos morais, sem regras de conduta. A moral é mera ilusão burguesamente ordenada. Chega de pintar o mesmo quadro, a mesma paisagem.
                Eis o que lhes quero compartilhar: a mesmice é como uma ponte para o mesmo lado de onde se saiu; o ponto de origem que também é o fim; o feixe de luz que não será apagado da memória, tendo no sol que renasce a lembrança do anterior. No entanto, o momento que há de vir nunca será diferente enquanto viver-se o passado no presente. O momento é outro, mas sejamos justos com a nossa realidade: "essa é a juventude que quer mudar o mundo; deixa para matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem". Quando vamos tirar a face da lua e aprendermos a ser como os vaga-lumes? Quando?
                A geração moderna faz das estátuas os troncos de árvores que foram outrora, assim como outros já disseram. E talvez, imaginando as praças públicas como passarelas suspensas para a exibição da roupa nova, de marca, da moda, numa disputa desesperada, sem limites e sem fim, libertam-se os hormônios agitados pela força das idades. Penso no quanto devem ter as mentes desnudas, e imagino que sejam por dentro como aqueles manequins de lojas da capital. Ninguém se preocupa com a nuvem que passa longe; de repente, ela se aproxima e nos ataca com chuvas ácidas e raios na cabeça. Por isso, tenho medo de fazer previsões acerca de nosso tempo.
                 Paremos de investir contra o futuro, inertes nessa falsa posição de glória, pois o remorso será nosso. Eu sei que experiência não é a virtude que temos para conscientizar o mundo; mas três pernas não sustentam uma mesa, cabe a nós outros apoiar o lado que falta. Porém, a mesa já virou palco, e os bailarinos invasores, com suas piruetas sincronizadas, estão nos envolvendo na dança, fazendo alusão às suas tendências cuspidas para nossa evolução (demagogias!), mas, nos camarins, ensaiam a barbárie. São as piruetas que nos transformarão em rãs! Quando serão derrubadas as paredes desse palco? O mundo precisa é de janelas que nos mostrem outras janelas para uma paisagem melhor. Não podemos perder de vista o horizonte que flutua em nossa frente.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Não vou mudar

Tantas formas quadradas, ignorantes.
Tantas f(ô)rmas, e sobra tudo de importante.
Tanta gente querendo mudar a vida de alguém
que seja seu, seu diamante.


Tanta gente querendo mudar o mundo,
não percebem que é o mundo mudando alguém. 
E eu não vou mudar pra ter alguém comigo,
eu não vou mudar pra ter alguém.

Com que roupa sair sem chatear o marido,
quais as regras do pudor?
Se você faz amor bem comportada,
aparece uma safada e rouba o seu amor.

E não diga que isso foi por culpa do vestido,
pois o mundo é sem sentido, incontrolável.
E eu não vou mudar pra ter alguém comigo,
eu não vou mudar pra ter alguém.






____________